segunda-feira, 23 de julho de 2012

Era uma vez um dia de chuva. Era uma vez um dia.
A boca do jarro se abriu e da falta dos olhos chorou.

Uma vez dois. Outra vez um e um.
O jorro da borda desceu e da falta do colo molhou.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Pelas ruas da minha cidade

Era umas 23h40. Voltava pelo metrô, baldeação Paulista, linha amarela pra pegar a linha verde. Ali naquele corredor enorme que liga as estações, dois rapazes, um muito alto e forte e outro com metade do tamanho do primeiro estavam completamente bêbados. Andavam meio que se escorando um no outro. O maior tinha uma garrafa na mão, dessas de um destilado qualquer. Só um restinho do líquido balançava de um lado pro outro. Trombaram num garoto que passava. Esse terceiro tinha traços indígenas. "- Seu chico, filho da puta!Olha por onde anda! Chicano, chicano!Volta aqui, seu chicano" gritavam os dois, especialmente o maior. O moço em questão apressou os passos, assustado. 
Uma tensão espalhou pelo ar.
Escada rolante. Nós subíamos, eu estava apenas um pouco atrás deles. Um homem, que estava na escada que descia e também assistiu a cena se manifestou: "- Cala a boca, vocês!Cala a boca!" Mais tensão. Os dois começaram a tentar descer a rolante (sim, pela mão contrária!), o "grandão" ameaçou jogar a garrafa no outro homem, esbarravam nas pessoas enquanto diziam: "- Seu veado! Vem falar aqui perto, seu veado, bicha. Bichona!" Mas, pelo grau etílico e pela lotação da escada não conseguiram passar.
Mais a frente, um casal de mulheres e um de rapazes se entreolharam:era hora de correr!
Mais tensão. "- Mais veado nessa cidade! Quer ser veado e ainda playboy!" se entreolhavam e falavam um pro outro: "Hoje é dia!Hoje é dia de veado!É muito veado!" Eles pareciam obsessivos pela palavra.
Chegaram os trens. Entrei no mesmo vagão que os casais que correram. Os dois, que evidentemente queriam brigar, não conseguiram entrar e continuavam aos berros na plataforma.
As portas fecharam. A "pólvora" ficou pairando na ar junto com a sensação de que o desfecho da noite pra quem cruzasse o caminho deles poderia acabar mal, mal!
Fiquei aqui pensando nos motivos que levam alguém a explodir de raiva assim. É realmente assustador! Claro que não era a bebida, ela pode talvez ter sido uma espécie de potencializador de um comportamento, mas obviamente não a motivação central.
Pois é...
Que pena! Que cena triste!

sexta-feira, 6 de julho de 2012


O amor quando chega,
Chega bem devagarinho
Vem pisando de mansinho,
Vem, fingindo que não vem!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

segunda-feira, 25 de junho de 2012





Vivo num lugar em que sou muitos. Entre o desejo e a dureza moro no cinza do centro da minha cidade:é lá que me cabe o sentir(meu concreto impermeável não sabe das lidas do carinho!).
Lá,só se sabe do amor na beleza da flor amarela, dessas que dão em qualquer lugar, dessas que insistem em nascer nas paisagens que não são suas.Quase desapercebida! E é preciso respirar tão profundamente pra acessar seu perfume...e é preciso tão larga imaginação pra acessar sua textura....que é bela porque é imaculada!
Vivo num lugar em que sou muitos. E entre tantos outros, entre tantos tantos, desconfio que também moro na amarelada flor.Assim...improvável!

sábado, 23 de junho de 2012

quinta-feira, 14 de junho de 2012


Hoje,no começo da tarde, passando em frente ao MASP, vejo um amontoado de pessoas lendo o seguinte banner:" Atenção! O fim do mundo está próximo! São Paulo será destruída num terremoto em 20/12/2012." Sei.
Continuo minha caminhada pela Paulista sob o céu de outono. Rapazes voando em seus skates, pessoas falando em seus celulares, meninos tentando roubar os celulares dessas pessoas...
Já na calçada do Center 3 encontro Jack Sparrow empunhando sua espada a troco de moedas. A espada está apontada pra um garoto, que tem os olhos vidrados e sorriso largo. Ao lado de Jack, vejo um senhor pintado da cabeça aos pés, de várias cores, batendo continência ao som do Hino Nacional Brasileiro. "- Eu não gostava dessa música quando era criança!" gritava. O sol dá aos dois o mesmo tom alaranjado! Parado no trânsito (sim, o trânsito!) um homem escuta "Miles Davis", os olhos distantes...
Ao meu lado, lentamente passa um carrinheiro com seus três cachorros fiéis e sujos. Ele diz que estou bonita. Fico feliz, continuo só.
Alguém passa e pergunta as horas, ignorando o imenso relógio no meio da avenida. Alguém passa e pergunta onde é a Pamplona, ignorando meu estado febril. Nesse momento, Jack abraça duas garotas. Tiram fotos. Da janela de um ônibus alguém atira uma moeda pra ele. Dia de sorte.
Clinicas, Sumaré, Perdizes. E agora do ônibus, observo a cidade refletida no vidro. E então...aquele barulho típico: acidente! O velho atropelado está caído no meio da Alfonso Bovero. O jovem piloto da Vespa está estirado embaixo do ônibus que estou, mais precisamente embaixo de mim. Eles se levantam...Nada demais: o rapaz ganhou um machucado no joelho;o velho perdeu as tiras dos chinelos.
Uma criança ri. Tem nas mãos uma flor.
Tenho a impressão, vendo essa tarde na minha cidade, que o tal do fim do mundo nunca esteve tão distante!

quarta-feira, 13 de junho de 2012



Alma é palavra bonita!
Quando falada, vem de fora pra dentro. Tem que ser engolida.
Quando escrita, ela tem degrau. Delicadamente te eleva! 

quinta-feira, 7 de junho de 2012


Lá fora chovia
Cá dentro secava
A medida da gota era a medida do pó

Queria chamar-se Cecília
Queria chamar-se João
A medida do não era a medida do pó

Lá fora molhava
Cá dentro moía
A medida da dor era a medida do pó

Queria quentar Cecília
Queria querer João
A medida do ventre era a medida do pó


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Quero apenas cinco coisas


"Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são seus olhos
Não quero dormir sem teus olhos
Não quero ser... sem que me olhes
Abro mão da primavera pra que continues me olhando."

Pablo Neruda

terça-feira, 29 de maio de 2012

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Passo a passo



O fio esticado de um lado ao outro era ponte tensionada.
...um a um...passo a passo...atravessava...de-va-gar...
Vento soprou.
-Ai!
E então caiu.
E enfim voou!

sábado, 31 de março de 2012


E hoje durante a tarde ela disse: "Eu estava tão feliz nesse dia!". E foi sem pensar, as palavras apenas pularam de sua boca. Olhou para aquela tela pequena que estava em cima da mesa. Não havia ninguém no ambiente , alguém havia deixado a gravação ali. Ela ouviu aquelas vozes familiares e parou para ver.E lembrou-se de tudo, como num filme clichê: 

                                     A lua amarela naquela noite tão quente e tão distante de casa, a ponte de madeira e mais que tudo , aquela sensação. Meu Deus! Como foi bom sentir... Dentro dela era a paz, era toda a felicidade explodindo! Apenas três anos se passaram mas parecia realmente que via uma gravação feita há milênios. Talvez fosse outra pessoa. Não, era ela mesma. Cabelos mais compridos e sorriso mais largo! Daqueles que vem , assim...sem querer... Agora o que era largo era o número de seu manequim, que havia aumentado consideravelmente e também a lista de homens que haviam passado pelo seu corpo.Sempre em busca daquela sensação.Nunca mais teve.



E olhando aquela imagem constatou que a vida havia passado num piscar de olhos como sua avó sempre dizia. E sentiu-se velha. Sua juventude em seu ápice havia realmente passado. E não mais voltaria. Todos sabem disso. Mas agora era com ela. Ela viu e soube. Alguém ouviu quando disse que estava tão feliz nesse dia, nessa época!, emendou.
- " Não diga isso. Você não está feliz agora?", perguntou a outra mulher.

E ela se deu conta que não. Aquela alegria do encontro de amor? Ela nunca mais sentiu. Só agora ela percebia que , de fato, algo havia se quebrado. Por fora e por dentro. Teve a nítida sensação de que seu tempo havia passado!

- "É... assim como eu estava, não. Os motivos, sabe...." E começou a chorar. Assim, sem perceber ,assim como as palavras também! 
-" Eu estou transbordando!", pensou. 

E a outra mulher a abraçou. E a compreendeu.

domingo, 25 de março de 2012


Esperança?

A  casa está torta. 
... Aorta...
O ontem e seus filhos.
...Declínio...
As pernas onduladas de existência.
...Demência...
O amanhã está cansado.
...Fadado...


segunda-feira, 19 de março de 2012

sexta-feira, 16 de março de 2012

Ai



Não sei se foi a cachaça ou seus olhos.
Ainda transpassa...
Deve ter sido a cachaça.
Foram seus olhos! 

terça-feira, 13 de março de 2012


Caçando palavras

E mais uma vez olho pela porta da cozinha que dá para o jardim. Jardim esse quase adormecido pelo tempo...parece nem existir! Eu sempre olho! Sempre estou lá fora! E não só no jardim, também nas ruas, nas vielas escondidas, perto do mar...Tudo isso pra buscar o que aqui dentro necessita de palavra! E por quê denominar o que não se sabe nome? Em verdade só se sabe verbo: sentir! E sentir nem sempre requer a objetividade do é isso ou aquilo. Aliás, geralmente é aquilo, lá longe... Tão longe que escapa quando tentamos pegar. É o desejo que alcança, não as mãos limitadas pelo corpo. O desejo e tudo mais que pulsa! É o sangue que chega primeiro, é a gota de suor que cai antes: antes de subir pela boca (ou descer da alma?) para virar palavra. É que a fala é atropelada pelo encontro com o tempo, que é real, é agora. E o agora é tão objetivo que dói! Daquele tipo de dor que te faz tropeçar. A palavra falada está no ar misturada com a respiração ofegante de quem diz com os olhos de quem devora: fica misturada mais uma vez pelos desejos! Mas quando ela sai da ponta dos dedos torna-se atemporal, livre... O ontem e o amanhã num amor eterno e despudorado, até quase protegido! E depois que as mãos trabalham deixando escoar o que antes foi burilado lá dentro, numa busca dolorida e sem fim, ela não mais  pertence a ninguém.
Ela é dúvida...e alívio!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Impreciso como as rugas envolvendo meus olhos... o tempo! Vai girando uma roda de bicicleta e soprando os pés. Olhos e pés: parecem tão distantes dentro desse universo do que sou! Um anjo menino atira sua flecha e... pneu no chão. Tempo! Ele caminha por chão batido, deserto, talvez colorindo de amarelo o pólen na estrada. (E as estradas não caminhadas são alívio para o coração que dói!) Somos, a estrada e eu, um para o outro, o primeiro e infinito amor! Meus olhos, meus pés e a estrada: um inebriante triângulo amoroso regido pelo tempo! Meus pés vão, minha alma acompanha. Às vezes o contrário acontece. Às vezes nem mesmo sei...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Morrer em pé

 E então o véu se abriu a ali estava a boca, suja e escancarada! Não era como imaginava mas -o desejo nem sempre condiz com as entranhas, pensou. E num lapso de Saramago quis que as pontuações desaparecessem e fluíssem com o pensamento solto e espantado, com línguas e cortes profundos, com todos os sabores sem (dis)descrição.  O alimento confuso lhe subia as pernas e rabiscava o interno das coxas tantas vezes ignoradas, nos pequeninos e suaves pêlos em plumas ali, perdidos... -Pra que parar? pensou o homem por trás do lacre. - Pra que mentir?, deixou escapar a mulher. Nuvens de cigarro querendo ultrapassar o teto; o cheiro de suor.... Não só os próprios suores mas os dos tantos outros que por ali passaram. - Essa coisa gruda!sentiram. E se lembrou de quando sua mãe dizia que pra lavar a roupa tem que se tirar bem o sabão, pra não grudar! -Só com muita água , minha filha! Mas era tanta água que, pequenina, tinha medo de se afogar...sempre teve. A água, como o gozo,trazia-lhe a morte à tona. -Quero morrer!,pensaram os dois sem saberem um do outro. A culpa espreitava tudo pelo vão da porta, culpa católica não entraria ali! Era de longe e com um sorriso no canto da boca que farejava a isca pega. Deleite! A gravata não saia e ficou assim, presa na garganta molhada. Era tanta coisa presa ali que mais essa não faria diferença. -Eu não falo, eu faço!, era seu lema. E de tanto fazer e muito calar estufou suas glândulas de gordura. Um perfeito foie grás , de gravata... Aproveitaram a sirene da rua pra gritar... e morreram...cada um ao seu tempo... em pé. 

Se agora eu pudesse voltar em meu tempo de certo teria um alento
nas vozes que deixei por lá.
Verdade, certas coisas eu não faria, outras tantas eu nem diria,
clichê que não posso escapar.

De ti guardaria em lacre o cheiro, as mãos, a textura , o tempero
para vez em quando provar.
Quem sabe poria uma pedra em meu peito pra que eu não mais fique sem jeito
quando o teu caminho cruzar!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012



Tinha muita gente.Te procurei. Saí...
O barulho dos automóveis lá fora poderíam refletir aqui dentro. A multidão assusta como no dia em que saímos da casa dos pais para morar a sós:o velho fogão marrom, a fumaça do cigarro desenhando o teto, e seu sorriso de canto, tímido. "Seus olhos amendoados não alcançam aqui dentro!" Era o verniz ...Esse de camada brilhante e sedutora!
Olho ao redor e você não está. Procuro na sessão de lançamentos, que sempre foi sua primeira opção. Depois na prateleira da cultuada arte moderna. E ali alguns te representam num gesto, num comentário. O homem da direita vira a página lambendo os dedos como se pudesse comê-la! Exatamente como você.
Os ombros pesam. Sento-me naquele mesmo lugar de sempre e peço o mesmo prato de sempre! E eu como e eu pago e eu espero. Olho ao redor e você não está. Talvez já tivesse partido antes mesmo de partir! Porque parece-me que é assim: a ação física é reflexo, somente reflexo do doce desejo de ir. 
Pra quê tanta gente em volta? Pra quê? Decido andar e assim o faço por horas (anos?)  como se ao caminhar deixasse partes pelo chão, desfolhadas!
E antes de morrer, eu morro! E mais uma vez e sempre...