sexta-feira, 1 de novembro de 2013


E então Um e Dois caminhavam... as mãos eram quatro, a vontade era muita.
E durante o caminho, uma trilha se abriu. Dois seguiu pra um terceiro. 
Um ficou só. Um virou meio.

Um dia ela decidiu não mais correr. 
Os pés caminhariam a contento. O tempo encontraria o ritmo dos pés e não mais os pés correriam atrás do tempo. 
E depois do dito ela não mais correu. 
Andou. 
Andou no ritmo que os pés ditavam, passo a pas - s - o. 
E então tudo se fez sopro!
E quanto mais o chão entrou em seus pés, mais ela conseguiu voar.


Esperar é aquele momento em que o seu tempo é do outro.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013



A cortina movia-se com uma delicadeza tão grande que a comoveu. Talvez a cortina não quisesse incomodar. Talvez quisesse apenas lembrá-la que não estava só. Seriam as duas a cambalear pela madrugada fria. Densas e invisíveis. 


E então o tempo fica suspenso: Seguir? Ir. Seguir?
E a moça compra esmaltes pra tingir. Fingir? Cumprir.
E o silêncio aproveita o lapso no tempo e se instala, impiedoso. 
Impiedoso do verbo: ferir!

domingo, 16 de junho de 2013



Passo pálida e triste. Oiço dizer
"Que branca que ela é! Parece morta!"
E eu que vou sonhando, vaga, absorta,
Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...


Que diga o mundo e a gente o que quiser!
-O que é que isso me faz?... o que me importa?...
O frio que trago dentro gela e corta
Tudo que é sonho e graça na mulher!



O que é que isso me importa?! Essa tristeza
É menos dor intensa que frieza,
É um tédio profundo de viver!


E é tudo sempre o mesmo,eternamente...
O mesmo lago plácido,dormente dias,
E os dias,sempre os mesmos,a correr...


Florbela Spanca.
 

sexta-feira, 10 de maio de 2013


As crianças correm com o chão na cabeça. 
Pernas pro ar de menino vira raiz...
"No café da manhã, minhas certezas servem-se de dúvidas. E tem dias em que me sinto estrangeiro aqui e em qualquer outra parte. Nesses dias, dias sem sol, noites sem lua, nenhum lugar é o meu lugar e não consigo me reconhecer em nada, em ninguém. As palavras não se parecem aquilo que dão nome, e não se parecem nem mesmo ao seu próprio som. Então não estou onde estou. Deixo meu corpo e saio, para longe, para lugar nenhum, e não quero estar com ninguém, nem mesmo comigo, e não tenho, nem quero ter, nome algum: então perco a vontade de me chamar ou de ser chamado." 


"A Pálida", Livro dos Abraços, de Eduardo Galeano.
O tempo arrasta suas sandálias.
Recostado numa pia de cozinha, descompromissadamente, bebe café. 
A fumaça sobe pelos ares. 
O tempo tem todo o tempo do mundo!

Chovia! Terra molhada vertia memórias.
Pingos nos is.