quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Mordeu. Feito manga fiapo nos dentes.
Lambuzou-se rosto, pescoço, mãos.

Escorreu. Peito, barriga, sexo.
Pés inundados.

Poça de gozo-fruta.
Bruta.

Enfim...chão.
Leu Drummond e quis amar! Desejou vestido novo com tecido escolhido pelas próprias mãos. Quis mudar os cabelos e as formas.Especialmente as de lidar, embora fossem as mais difíceis. Quis que a delicadeza não desistisse de ser. Pensou em por quês: por que deixar pra amanhã; por que não tentar; por que não. Por quê? Desejou o respiro do tempo:como num breve suspiro, desses restauradores. Simples. Pensou em ser mais e ser menos, bem menos. Quis o que nunca quis: ser flor; cultivo e beleza. Desejou que o homem bonito a visse como flore que num incontido impulso revelasse aos quatro cantos: flor!. Desejou colo sem pedir.Leu Drummond e quis ser palavra. Palavra que uma vez dita pudesse mudar o mundo. O pequeno mundo diante de si, Desejou ser palavra degustada com requintes de banquete. Ser engolida com ares de sede. Leu Drummond e tudo virou inquietude e pedra e flor.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Carolina acostumara-se a dividir seus passos com outros pés. A casa cheia desde a planta até a mãe. O chão da sala perdia sentido quando reduzia-se ao piso de madeira. 
...
Agora, casa vazia, sentia o tempo escorrer nos vãos dos dedos. Sofria de falta de formiga sobre doces esquecidos após o almoço. Sofria de cadeira vazia ao redor da mesa. 


Debaixo da mesa da cozinha restaram apenas dezoito pés. Dois de Carolina.
Quintal pequenino! Soleira de porta, café fresco... alça de camisola caindo.
Silêncio...
Sol crescendo atrás de muro, beijo nas costas, fumaça subindo de xícara branca.
Passarinho...
Carolina sonhava quintais!

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Carolina derrete-se entre as tramas da cidade. Pega frutas vermelhas esquecidas de serem olhadas( tantas brotam por aí!) e lembra que ainda criança acreditava que essas mesmas frutas a transportariam para uma outra espécie de mundo. Devaneios de Alice! Pega poucas de cada vez pois suas mãos são pequenas, frágeis e ossudas, dessas que cachorros adoram mordiscar pra passar o tempo. Não come. Apenas guarda. Carrega as frutas numa bolsa entulhada de coisas também não vistas: sofre de falta de fronteiras, acredita que o outro é também substância sua.
sobre Carolina.1.

terça-feira, 24 de junho de 2014

No mar de luzes vermelhas minha cidade se afoga.
Calada, caminho pela Paulista em noite fria.
Fumaça branca da boca, corpo descompassado.
Aqui, na rua recapeada, minha pequenez ganha forma.

domingo, 22 de junho de 2014

Uma manhã quase fria de um dia quase bonito nas ruas de Perdizes.
Uma mulher, casaco escuro , roupas sujas como suas suas mãos, seu corpo.
Cabelo branco amarelado do tempo. Esquecimento.
Abaixou-se no meio fio, meio sem jeito( talvez pela dureza da idade ou da vida).
Lavou suas mãos, seu rosto com calma. Lavou sua pele envelhecida na água suja que descia na encosta da calçada. Água cheia de folhas e restos de histórias levadas pela ladeira.
Era delicada a mulher. Pegava apenas a água da superfície como se fosse de um rio. Rio magro metalizado e bruto, alheio a tudo.
Por fim, pegou uma pequena caneca de ferro,mergulhou no filete, cuidadosamente.
Bebeu.
O líquido sujo das ruas paulistanas matava sua sede matinal.
Maria? Tereza?
O sol saía das nuvens vez em quando.
Maria ou Tereza lavou sua noite nos restos misturados da rua. Bebeu do que ninguém quer.
Talvez fosse pura a ponto de não se misturar! A Maria.
Doeu a retina. Não pelo sol mas por Maria.

Do desejo que a água seja pura pra quem dela procura.
No peito abriu-se um buraco. Do outro lado do peito que se abriu um buraco podia-se ver tudo o que antes era impossível. A luz era tão grande do outro lado do peito que se abriu um buraco, era um clarão tão grande que quase cegou os olhos de Ela. Ela nunca tinha visto uma luz tão forte. Tudo era claro. Era o Óbvio. O Óbvio só poderia ser visto tão claramente ali, do outro lado do peito que se abriu um buraco. Do lado de cá não dava pra ver, a falta de profundidade não permitia. O Óbvio era óbvio: podia-se vê-lo, entendê-lo e senti-lo de uma vez só. Absorvido de uma vez só,como substância. Era grande o Óbvio. Ela que era acostumada com o lado de cá demorou a acostumar-se com a nova visão. Mas manteve-se firme. Ficou parada observando um ser nunca antes visto. Ficou pasmada e intranquila. O Óbvio aos poucos caminhou em sua direção, em passos certos... e óbvios. Invadiu Ela. Ela mergulhou num profundo abismo desconhecido. E Ela teve dúvidas do que via. o Óbvio trazia dúvidas!

De escritos antigos e óbvios
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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Talvez tenha sido "o sal intenso que invade o concreto e corrói o ferro da estrutura do edifício".
Talvez tenha sido o silêncio que a perda instaura.
Talvez tenha sido a motocicleta correndo a beira mar.
Ou ainda a partida inexplicável para o desconhecido.
Um choro preso o tempo inteiro invadiu meus olhos ao assistir "A Praia do Futuro". 
Agora sem o "talvez" eu entendo os motivos.(particulares, eu sei.)
Esse inexplicável vazio que nos coloca em outras terras, metafóricas ou não. 
Essa imprevisível troca da liberdade infinita das águas salgadas pelo tanque seguro que às vezes é necessário mesmo sem elaboração prévia. Ou o encontro com a praia sem mar, embora o sol esteja lá, fechando nossos olhos, aquecendo nosso rosto.
Eu me senti ali nas pedras noturnas levando esguicho de mar,correndo um risco nem tão perigoso assim!(porque às vezes o risco não precisa e nem deve ser tão grande mesmo). Assim como senti a neblina fria da estrada, o frio cortando o desejo de seguir, seja como for.
Triste pensar na possibilidade de alguém ter saído do cinema por conta das cenas de sexo! O roteiro trata de pessoas que tentam se encontrar no meio do afogamento que a vida, num rompante nos proporciona. E me pegou ali, sentada na poltrona do cinema como se estivesse olhando o mar. (coisa que permeou grande parte de minha vida)
Talvez tenha sido isso: o mar! O mar e Berlin. E a motocicleta.
Sei que o filme e o roteiro não agradou a muitos mas andou de mãos dadas comigo e com essa vulnerabilidade esquisita e difícil de traduzir em palavras que nos acossa, determinante. 
Talvez seja a vontade que esse desconhecido me pegue pela mão mesmo e me conduza a lugares antes não pensados.

Voava com uma só asa; é que sofria de cacos! Desde pequena era assim. Acostumara-se ao coração feito de margens e aos pés em desalinho. Via formigas e pensava em mundos distantes. Olhava de perto aqueles corpos pequenos, irritantes, curiosos e pisava em cima deles. (tinha medo de amontoados!) Via o céu e sonhava. Era mais difícil pois lá em cima tudo era possível. Era difícil pensar no possível!Por isso mesmo passava horas do dia se enredando nas nuvens, cavalgando em algodões, pulando pó de estrela! Os cometas eram seus preferidos! Nunca compreendeu funcionamento de penas, as dos pássaros e as suas: como um pedaço de quase nada podia te levar pro alto? Como um pedaço de quase nada te tirava do chão? Não compreendia muitas coisas. Como por exemplo: os gritos da vizinha com seu cachorro Banzé; como a água que é uma coisa transparente e que não dá pra pegar quebrava as telhas de sua casa; porque os mais velhos diziam “Vá com Deus!” Talvez fosse seu coração feito de margens que deixava que o entendimento caísse nos vãos. Gostava de flor! Dos infinitos cheiros coloridos. Esses eram de fácil entendimento: - Flor tem perfume, oras! Até as que não se deixam sentir tem! Para essas só era preciso uma atenção especial de joaninha. Aprendera que para voar uma espécie de agudo se formava entre o esforço e o vão do coração. Aprendera que o agudo apitava! E que quando o agudo apitava um tremor irreversível sacudia os cacos e acordava a asa. Voava com uma só asa. Doía. Ela não sabia que doía porque nunca tinha sido de outro jeito. Só sabia que sempre fora assim.
Como um caramujo em busca do desconhecido o dia amanheceu. 
Lento.
Brisa gelada e cinza cortando a matéria mole. 
E o tempo é o mesmo. (Tempo é formiga ligeira em cima do compasso pesado do bicho)
O tempo vai...o corpo fica!
Acho que a saudade é um barquinho que não volta! Um barquinho que saiu no mar azul num dia ensolarado ... E a areia continua lá, esperando, dia após dia. Recebendo as lambidas das águas, das correntes quentes, das correntes frias. E nas tardes em que o sol tinge tudo de laranja e rosa e amarelo, a areia deseja que o barquinho regresse servindo de quadro pra aquarela tão bonita, desenhando o amor em pinceladas profundas! Tem noites que as estrelas iluminam os olhos marejados.Tem noites que a brisa salgada traz alento. Tem noites que a areia se sente só, pequena , mesmo no meio de tantos iguais a ela. Acho que a saudade é uma esperança doída do apontar do barquinho no horizonte. Do barquinho que não volta. E a areia deixa a criança espalhar seus pedacinhos pra que ela vire castelinho cintilante. E deixa-se virar um buraco fundo que verte água incessante.E deixa-se cobrir novamente. Acho que a saudade é ressaca do dia seguinte da chuva forte. E a areia se mistura com a espumeira branca e brava. E é jogada de um lado pro outro até cair na praia vizinha. E a areia experimenta os novos pés a andarem entre ela. E que acabam levando seus restos pra longe. Acho que a saudade é o amanhecer gelado no topo da vela do barquinho. Do barquinho que não volta. E a areia se endurece de frio e quase vira pedra. E quase machuca o tatuí. E quase se esfarela. E quase dói. Acho que a saudade é a rede puxada na maré cheia. E a areia vira porto pro peixe fisgado e agonizante. E se confunde com o cheiro de pirão.
...
Acho que a saudade é um barquinho que não volta! Embora a areia continue ali servindo de chão para o Forte atento e de farol aceso a iluminar o mar escuro.
...
Acho que a saudade é barco que foi, é areia que fica. Eternos. No ir e vir das marés.
...
Quatro meses de luas!

sábado, 26 de abril de 2014

Quando menos se espera um imponente fio branco se aloja na testa. Impossível não vê-lo. Parece que cresceu durante a noite. Ou foi durante os dias em que eu estava ausente? Preciso estar em alerta sempre? Do contrário me perco nas ruas, perco as chaves, perco o prumo. Mergulho nas profundezas de lugar bonito: Olinda, o mar, olhos bonitos, uma palavra escrita em muro velho. Andando por ruas de paralelepípedo é mais perigoso: as histórias do chão enraízam nos pés; delírio!
Para o fio branco pergunto: o que você quer? Sei da urgência do tempo. Sempre soube. Eu acho que sempre soube. Essa urgência do ontem que brota no peito. Sem motivo aparente ou talvez pelo simples espanto que é estar vivo. Estar vivo é espantoso!
Depois da morte de meu pai uma avalanche de sensações me corre à essa urgência. Não, não foi depois, foi durante sua internação. Foi no dia em que recebi a notícia de sua queda. 13 dias em que ao seu lado tive a noção do que estar à parte. Nada mais importava do que cuidá-lo. 
Talvez esse fio branco tenha começado a surgir quando cuidei dos fios brancos de meu pai. No desembaraçar seus cabelos ainda com o sangue que é vida-morte. Foram dias sem tomar meu remédio e nem notar, dormir com ar condicionado e não me fazer mal, não comer direito, não dormir e não dar a mínima importância pra isso tudo que banalmente me incomodava. 
Foram três andares descendo de escada para um porão de hospital frio para receber a notícia de sua morte. Notícia dada de modo frio como as paredes do hospital. Essa espécie de anestesia, esse corte no pulso. E depois de quase (ínfimos) três meses acho que esse cabelo branco que insiste em renascer quando eu arranco é parte disso tudo. A morte é soco no estômago do banal. Pra quê? Por quê? Tudo toma a dimensão do fim eminente. Eu sempre tive paúra dos que pregam as certezas da vida. Mas a morte... é uma certeza.
Quando uma amor vai embora, acaba-se o futuro combinado, é o fim de uma possibilidade. Mas o ser amado continua recendo o sol, e vez por outra tem-se notícia de seus caminhos. Quando se perde pra morte a história não finda. Ao contrário, ganha a dimensão de ancestralidade como se andássemos com um costeiro grandioso que diz: eu vim daqui! O que finda é o material. Mas se estamos vivos, se somos matéria, não seria então o Fim? Se há alma, se Deus existe , se deus não existe não importa. Qualquer que seja a abordagem uma coisa fica imensa; a matéria não mais existe. 
Talvez esse cabelo branco seja parte dele dizendo: a vida segue envelhecendo a gente, brincando conosco, tingindo de cores inesperadas nossos corpos repletos de ontem, de hoje. 
E mesmo assim, ao lado desse fio branco vem outros ainda castanhos e brilhantes que também são parte do todo. Vem junto com um beijo inesperado, vem junto com o banho de mar (tão recorrente nas espumas do ir e vir!)
A vida então é isso! Pensa-se. Ganhamos um carimbo na tentativa de expurgo da banalidade. Pra quê esperar pra viver? Pensa-se de novo. E de novo, e de novo! e aquela urgência imensa ganha um sentido do querer pro hoje, do carinho do hoje, do cuidado no hoje, do amor no hoje. 
E aquele fio branco vai continuar a nascer , caindo bem no meio da testa. Talvez apenas pra lembrar!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014


Queria um dia deixar sair palavra que mora aqui dentro.
Que habita minha fenda.
Que brota no canto escondido e que vez em quando teima.
Mas entre o cá e o lá...
Ah!
É tão longo o caminho!
Nele uma letra escapa,  suspiro se cansa, desejo põe capuz.

Fogem da luz.
Luz!
É tão longo caminho!
Palavras se confundem, pa-la-vras tropeçam, pvras  se escondem 
Palavras se perdem. 
Nos vãos.
(Nem vão nem voltam!)

E  palavra que queria sair pra passear continua cá, 
Intacta.

Das bobagens no caminho entre cá e lá.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

- Ou esse ou aquele!
Era sempre assim. Tinha que escolher entre esse e aquele. E ás vezes tinha também aquele lá. E daí ... ihhh ...
- Esse ou aquele ...Esse ou aquele?
-Esse.
...
- Ou assim ou assado!
Era sempre assim Tinha que escolher entre assim e assado. E ás vezes tinha também o deixa estar. E  daí ... ihhh..
Assim ou assado...Assim ou assado? 
-Assim.
...
Esse era assim. Esse era assim. 
-Sim. E aquele era assado!
...
E se? 
E se?
Era sempre assim. 
Shi ...shi ...shi ...shiplatft.
Gota.

Corria desenfreada pelas ruas. Tudo embaralhado. Ladeiras bambas em alta velocidade. Subia, doída. Cortou por becos, daqueles de entrada proibida, de passagem marcada a duras penas. Atravessou ofegante, sem pensar: talvez porque seu cérebro chacoalhava, talvez porque havia sangue em seu corpo, talvez porque havia se esquecido de pensar há muito e voltar não era fácil.

Vrum... vrum ...vrum

O vento nos ouvidos fazia cócegas! Lembrou da época em que sua mãe... Não. Não lembrou. 
Desviou de alguns gatos no caminho. Um deles era rajado de amarelo e branco. Olhos verdes. Esse,o de olhos verdes, acompanhou seus movimento trôpegos, passo a passo, impassível!  Por um instante seus olhos se encontraram: os verdes dele, os verdes dela. Ah!

Vazio.

Shi..shi..shiplaft.
Go-o-o-ta!

Faltava pouco para o topo. Mais uma escadinha improvisada, torta. Escorregou. -Ai! Levantou.
–Ai!Vai... tá chegando, pensou. Pensou não, lembrou. Não, não lembrou. Correu.

Shi...shiplat.
Gota vermelha.

Chegou.
Parou.
Olhou, ofegante a vista do alto.O mar!Ah...o mar!

...

O mar...
Ah...
...

O sol deitando-se suavemente no mar...

Vrum...vrumvrumvrum...Vrumm.

O vento nos ouvidos fazia cócegas!  Olhou e olhou durante algum tempo. 
Ah...
Olhou ao redor, estavam todos ali: a igreja imponente, a culpa, o medo, a decisão.
-Ai!

Shiplaft ...shiplaaaft...shiplaftshiplaftshiplatshiplaftshiplaft.

O chão embaixo dela avermelhou . O céu no horizonte avermelhou. De suas entranhas a chegada da noite se fez vermelha.
Vento.Ventre.Vermelho.


-Preci-so dei-tar, pensou. Não, não pensou.Caiu! 

para o blog Filacantos.
Depois de uma intensa gestação a saudade vira carne. (gestação de saudade varia de tempo, não é exata!). Mas depois de parida toma corpo e anda solta pela casa: quando menos se espera ela deita ao seu lado e te abraça fazendo certa graça! Deixa de ser saudade e torna-se Saudade. Faz o café, aquece o pão... Lava seus cabelos e te conta o dia. A Saudade quer ser inesquecível!!!"