quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Carolina acostumara-se a dividir seus passos com outros pés. A casa cheia desde a planta até a mãe. O chão da sala perdia sentido quando reduzia-se ao piso de madeira. 
...
Agora, casa vazia, sentia o tempo escorrer nos vãos dos dedos. Sofria de falta de formiga sobre doces esquecidos após o almoço. Sofria de cadeira vazia ao redor da mesa. 


Debaixo da mesa da cozinha restaram apenas dezoito pés. Dois de Carolina.
Quintal pequenino! Soleira de porta, café fresco... alça de camisola caindo.
Silêncio...
Sol crescendo atrás de muro, beijo nas costas, fumaça subindo de xícara branca.
Passarinho...
Carolina sonhava quintais!

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Carolina derrete-se entre as tramas da cidade. Pega frutas vermelhas esquecidas de serem olhadas( tantas brotam por aí!) e lembra que ainda criança acreditava que essas mesmas frutas a transportariam para uma outra espécie de mundo. Devaneios de Alice! Pega poucas de cada vez pois suas mãos são pequenas, frágeis e ossudas, dessas que cachorros adoram mordiscar pra passar o tempo. Não come. Apenas guarda. Carrega as frutas numa bolsa entulhada de coisas também não vistas: sofre de falta de fronteiras, acredita que o outro é também substância sua.
sobre Carolina.1.