sábado, 31 de março de 2012


E hoje durante a tarde ela disse: "Eu estava tão feliz nesse dia!". E foi sem pensar, as palavras apenas pularam de sua boca. Olhou para aquela tela pequena que estava em cima da mesa. Não havia ninguém no ambiente , alguém havia deixado a gravação ali. Ela ouviu aquelas vozes familiares e parou para ver.E lembrou-se de tudo, como num filme clichê: 

                                     A lua amarela naquela noite tão quente e tão distante de casa, a ponte de madeira e mais que tudo , aquela sensação. Meu Deus! Como foi bom sentir... Dentro dela era a paz, era toda a felicidade explodindo! Apenas três anos se passaram mas parecia realmente que via uma gravação feita há milênios. Talvez fosse outra pessoa. Não, era ela mesma. Cabelos mais compridos e sorriso mais largo! Daqueles que vem , assim...sem querer... Agora o que era largo era o número de seu manequim, que havia aumentado consideravelmente e também a lista de homens que haviam passado pelo seu corpo.Sempre em busca daquela sensação.Nunca mais teve.



E olhando aquela imagem constatou que a vida havia passado num piscar de olhos como sua avó sempre dizia. E sentiu-se velha. Sua juventude em seu ápice havia realmente passado. E não mais voltaria. Todos sabem disso. Mas agora era com ela. Ela viu e soube. Alguém ouviu quando disse que estava tão feliz nesse dia, nessa época!, emendou.
- " Não diga isso. Você não está feliz agora?", perguntou a outra mulher.

E ela se deu conta que não. Aquela alegria do encontro de amor? Ela nunca mais sentiu. Só agora ela percebia que , de fato, algo havia se quebrado. Por fora e por dentro. Teve a nítida sensação de que seu tempo havia passado!

- "É... assim como eu estava, não. Os motivos, sabe...." E começou a chorar. Assim, sem perceber ,assim como as palavras também! 
-" Eu estou transbordando!", pensou. 

E a outra mulher a abraçou. E a compreendeu.

domingo, 25 de março de 2012


Esperança?

A  casa está torta. 
... Aorta...
O ontem e seus filhos.
...Declínio...
As pernas onduladas de existência.
...Demência...
O amanhã está cansado.
...Fadado...


segunda-feira, 19 de março de 2012

sexta-feira, 16 de março de 2012

Ai



Não sei se foi a cachaça ou seus olhos.
Ainda transpassa...
Deve ter sido a cachaça.
Foram seus olhos! 

terça-feira, 13 de março de 2012


Caçando palavras

E mais uma vez olho pela porta da cozinha que dá para o jardim. Jardim esse quase adormecido pelo tempo...parece nem existir! Eu sempre olho! Sempre estou lá fora! E não só no jardim, também nas ruas, nas vielas escondidas, perto do mar...Tudo isso pra buscar o que aqui dentro necessita de palavra! E por quê denominar o que não se sabe nome? Em verdade só se sabe verbo: sentir! E sentir nem sempre requer a objetividade do é isso ou aquilo. Aliás, geralmente é aquilo, lá longe... Tão longe que escapa quando tentamos pegar. É o desejo que alcança, não as mãos limitadas pelo corpo. O desejo e tudo mais que pulsa! É o sangue que chega primeiro, é a gota de suor que cai antes: antes de subir pela boca (ou descer da alma?) para virar palavra. É que a fala é atropelada pelo encontro com o tempo, que é real, é agora. E o agora é tão objetivo que dói! Daquele tipo de dor que te faz tropeçar. A palavra falada está no ar misturada com a respiração ofegante de quem diz com os olhos de quem devora: fica misturada mais uma vez pelos desejos! Mas quando ela sai da ponta dos dedos torna-se atemporal, livre... O ontem e o amanhã num amor eterno e despudorado, até quase protegido! E depois que as mãos trabalham deixando escoar o que antes foi burilado lá dentro, numa busca dolorida e sem fim, ela não mais  pertence a ninguém.
Ela é dúvida...e alívio!