sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Impreciso como as rugas envolvendo meus olhos... o tempo! Vai girando uma roda de bicicleta e soprando os pés. Olhos e pés: parecem tão distantes dentro desse universo do que sou! Um anjo menino atira sua flecha e... pneu no chão. Tempo! Ele caminha por chão batido, deserto, talvez colorindo de amarelo o pólen na estrada. (E as estradas não caminhadas são alívio para o coração que dói!) Somos, a estrada e eu, um para o outro, o primeiro e infinito amor! Meus olhos, meus pés e a estrada: um inebriante triângulo amoroso regido pelo tempo! Meus pés vão, minha alma acompanha. Às vezes o contrário acontece. Às vezes nem mesmo sei...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Morrer em pé

 E então o véu se abriu a ali estava a boca, suja e escancarada! Não era como imaginava mas -o desejo nem sempre condiz com as entranhas, pensou. E num lapso de Saramago quis que as pontuações desaparecessem e fluíssem com o pensamento solto e espantado, com línguas e cortes profundos, com todos os sabores sem (dis)descrição.  O alimento confuso lhe subia as pernas e rabiscava o interno das coxas tantas vezes ignoradas, nos pequeninos e suaves pêlos em plumas ali, perdidos... -Pra que parar? pensou o homem por trás do lacre. - Pra que mentir?, deixou escapar a mulher. Nuvens de cigarro querendo ultrapassar o teto; o cheiro de suor.... Não só os próprios suores mas os dos tantos outros que por ali passaram. - Essa coisa gruda!sentiram. E se lembrou de quando sua mãe dizia que pra lavar a roupa tem que se tirar bem o sabão, pra não grudar! -Só com muita água , minha filha! Mas era tanta água que, pequenina, tinha medo de se afogar...sempre teve. A água, como o gozo,trazia-lhe a morte à tona. -Quero morrer!,pensaram os dois sem saberem um do outro. A culpa espreitava tudo pelo vão da porta, culpa católica não entraria ali! Era de longe e com um sorriso no canto da boca que farejava a isca pega. Deleite! A gravata não saia e ficou assim, presa na garganta molhada. Era tanta coisa presa ali que mais essa não faria diferença. -Eu não falo, eu faço!, era seu lema. E de tanto fazer e muito calar estufou suas glândulas de gordura. Um perfeito foie grás , de gravata... Aproveitaram a sirene da rua pra gritar... e morreram...cada um ao seu tempo... em pé. 

Se agora eu pudesse voltar em meu tempo de certo teria um alento
nas vozes que deixei por lá.
Verdade, certas coisas eu não faria, outras tantas eu nem diria,
clichê que não posso escapar.

De ti guardaria em lacre o cheiro, as mãos, a textura , o tempero
para vez em quando provar.
Quem sabe poria uma pedra em meu peito pra que eu não mais fique sem jeito
quando o teu caminho cruzar!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012



Tinha muita gente.Te procurei. Saí...
O barulho dos automóveis lá fora poderíam refletir aqui dentro. A multidão assusta como no dia em que saímos da casa dos pais para morar a sós:o velho fogão marrom, a fumaça do cigarro desenhando o teto, e seu sorriso de canto, tímido. "Seus olhos amendoados não alcançam aqui dentro!" Era o verniz ...Esse de camada brilhante e sedutora!
Olho ao redor e você não está. Procuro na sessão de lançamentos, que sempre foi sua primeira opção. Depois na prateleira da cultuada arte moderna. E ali alguns te representam num gesto, num comentário. O homem da direita vira a página lambendo os dedos como se pudesse comê-la! Exatamente como você.
Os ombros pesam. Sento-me naquele mesmo lugar de sempre e peço o mesmo prato de sempre! E eu como e eu pago e eu espero. Olho ao redor e você não está. Talvez já tivesse partido antes mesmo de partir! Porque parece-me que é assim: a ação física é reflexo, somente reflexo do doce desejo de ir. 
Pra quê tanta gente em volta? Pra quê? Decido andar e assim o faço por horas (anos?)  como se ao caminhar deixasse partes pelo chão, desfolhadas!
E antes de morrer, eu morro! E mais uma vez e sempre...